“Era uma vez uma mulher muito, muito poderosa. Casou-se por amor e logo após sua lua de mel, descobriu que seu marido havia desaparecido. Em grande lamentação, viajou por todo o mundo em sua procura – e quando suas lágrimas tocavam o solo, transformavam-se em ouro; quando tocavam o mar, transformavam-se em âmbar.
O descobriu na forma de uma grande besta e ao perguntar o
que houve, entendeu que ele havia sido banido pelos deuses e transformado em
uma fera marinha. Ainda que tivesse uma terrível aparência, ela decidiu por
permanecer ao lado daquele que tanto amava. Jurou vingança contra os deuses e
contra todos aqueles que os reverenciavam.
Mas tamanho poder não podia se opor aos deuses, então
decidiram que o homem seria enviado aos céus, onde ela poderia visitá-lo sempre
que assim desejasse.”
- Quando se trata de amor minha querida, nada pode impedir o
coração.
- Mas como ela pode ficar com ele mesmo estando horrendo?
- Escolhas. Sempre temos o direito de fazer as nossas. Seja
para nosso bem, seja para o mal e quando se escolhe com o coração, o
superficial é como uma fina camada de gelo que esconde um profundo lago.
- Mas ele tem o rosto queimado, é quase deformado.
- O que mais você vê?
Pensou por um momento, fitando os olhos castanhos escuros à sua frente.
- Um homem bom.
- E o que você sente?
- Mas o que dirão?
- Dirão muitas coisas. Sempre há algo a ser dito.
Assentiu, e diante dessas palavras, foi ter com o homem que
lhe pedira em casamento. Estava certa de que não iria se casar. Seu coração
pertencia a outro, àquele que lhe ensinava com palavras justas e carinhosas, àquele
que lhe mostrava o caminho.
E o que diriam os outros quando ela por fim pertencesse a
ele?
O que sempre dizem. Sempre há algo a ser dito.
