segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Os Enamorados (Ou carta VI)


“Era uma vez uma mulher muito, muito poderosa. Casou-se por amor e logo após sua lua de mel, descobriu que seu marido havia desaparecido. Em grande lamentação, viajou por todo o mundo em sua procura – e quando suas lágrimas tocavam o solo, transformavam-se em ouro; quando tocavam o mar, transformavam-se em âmbar.

O descobriu na forma de uma grande besta e ao perguntar o que houve, entendeu que ele havia sido banido pelos deuses e transformado em uma fera marinha. Ainda que tivesse uma terrível aparência, ela decidiu por permanecer ao lado daquele que tanto amava. Jurou vingança contra os deuses e contra todos aqueles que os reverenciavam.

Mas tamanho poder não podia se opor aos deuses, então decidiram que o homem seria enviado aos céus, onde ela poderia visitá-lo sempre que assim desejasse.”

- Quando se trata de amor minha querida, nada pode impedir o coração.

- Mas como ela pode ficar com ele mesmo estando horrendo?

- Escolhas. Sempre temos o direito de fazer as nossas. Seja para nosso bem, seja para o mal e quando se escolhe com o coração, o superficial é como uma fina camada de gelo que esconde um profundo lago.

- Mas ele tem o rosto queimado, é quase deformado.

- O que mais você vê?

Pensou por um momento, fitando os olhos castanhos escuros à sua frente.

- Um homem bom.

- E o que você sente?

- Mas o que dirão?

- Dirão muitas coisas. Sempre há algo a ser dito.

Assentiu, e diante dessas palavras, foi ter com o homem que lhe pedira em casamento. Estava certa de que não iria se casar. Seu coração pertencia a outro, àquele que lhe ensinava com palavras justas e carinhosas, àquele que lhe mostrava o caminho.

E o que diriam os outros quando ela por fim pertencesse a ele?


O que sempre dizem. Sempre há algo a ser dito.