terça-feira, 5 de abril de 2016

O Sol ( Ou Carta XIX)

POEMA AO SOL

Sol que me ilumina a face
E me silencia a dor.
Sol que encanta os olhos
Sol que dá vida a flor.

Sol que me faz voar
Nas plumas dos seus raios.
Sol que pronuncia risonho
Um poema de abraçar.

Sol que desperta a vida
No cantar dos pássaros,
No arrastar da brisa.

Sol que me traz a calma
Abraça-me com sua luz
E da-me paz a alma.

TiaoNascimento
(http://www.tiaonascimento.prosaeverso.net/visualizar.php?idt=421128)



O rio corria limpo aos seus pés. Deitou-se para esticar a coluna e arrumou o óculos que insistia em cair quando estava suando. Mexeu os dedos dos pés embaixo da água enquanto abria os braços e sentia o calor do sol o tocando.

- Céu azul, você percebeu? – Perguntou o humanoide.

- Sim, dia maravilhoso. – Respondeu o rapaz.

- Já fez o que tinha de fazer?

- Sim, tudo.

- Limpou o espelho?

- Até mesmo devolvi para sua dona.

- Alimentou os lobos?

- São cães. Se eu der mais comida irão engordar.

- Limpou a casa?

- Está cheirosa.

- Então é tempo de deitar e deixar o sol te aquecer?

- É passada da hora.

- Posso então tocar uma melodia?

- Claro meu amigo.

O sátiro tirou a flauta do bolso e colocou-se a tocar a história de um antigo deus que venceu um dragão e dele obteve um oráculo. Este mesmo deus viveu outras grandiosas histórias e por vezes sofria por desdenhar de outros deuses, como quando o vento matou por inveja, o seu mais belo e estimado amor.

- Arcos, flechas, conquistas, amores. Uma bela música.

- Tragédias, algumas tragédias... principalmente quando seus amores foram todos tirados dele.

- E não perdeu seu brilho.

- O deus sol nunca perde. Aliás, daqui, virando um pouco a cabeça de lado... talvez seja só o sol a pino... ou a sombra próxima da cerejeira, mas como ela não recai sobre você, imagino que não seja isso também. Meu velho amigo, que luz apagada é essa?

Virou a cabeça para o fauno, suspirou.

- Tédio.

- Então coloque agora a se levantar, vá buscar o arco, vá caçar.

- Hoje não Agreevos.

O sátiro se silenciou e olhou para as folhas da cerejeira que balançavam levemente com a brisa.

- Há um rapaz, muito belo, que se banha no lago de baixo. Lá perto onde tem tantas daquelas flores... como se chamam?

- Jacinto.

- Sim, este é o nome dele. Por que não vamos dar uma volta por lá?

- É mesmo bonito? Vale a pena a caminhada?

- Por fora posso afirmar.

Levantaram-se e foram. Desceram a trilha e caminharam por uma vegetação aberta que permitia alguns raios de sol passarem por suas folhagens, encontraram alguns frutos suculentos e se divertiram fazendo o jogo da verdade, em que cada um conta uma história de si mesmo e o outro deve adivinhar se é verdade ou mentira.

Chegaram a um ponto da trilha que era possível ver o lago logo abaixo. E nele, um jovem nadava nu, com a pele morena sendo tocada pelo sol e pela água. Afundava, dava braçadas, se deliciava naquele dia quente.

- Bonito mesmo.

- Vá até lá, entre na água.

- Não, você é louco? Vou assustá-lo.

- Você também tem seus atributos, embora beleza não seja o mais enaltecido deles.

Riram um para o outro e o rapaz escutou uma voz alta.

- Quem está aí? – Falou alto em certo tom tenso. O sátiro empurrou o rapaz que quase rolou barranco abaixo até chegar ao lago. Por reflexo, segurou um galho de árvore.

- Ahm... desculpe incomodá-lo... estava vindo para o lago e bem... não sabia que tinha alguém aqui.

- Ah sim, eu já estou saindo... fique a vontade.

- Não se preocupe... venho outra hora.

O rapaz do lago fingiu não ouvir e embora fosse contar mais tarde sobre a vergonha de estar nu, naquele momento o outro jamais poderia imaginar.

Às margens do lago, estenderam as mãos e se cumprimentaram.

- Venho todos os dias por esse horário... se quiser podemos... – percebeu que não tinha com o que completar a frase.

- Sim, podemos... tentarei vir amanhã. – Respondeu rapidamente o outro.

Jacinto partiu rápido, talvez pela sensação de vergonha.

O sátiro que fez um balanço com cipós e magia, tocou mais uma vez a flauta, fazendo o amigo lhe olhar com um sorriso.

- Obrigado.

- Hora, vejamos só se não temos um novo brilho aqui? Bem quente por sinal.


Riram.