Obrigado pela inspiração lobinha.
http://cap3la.blogspot.com.br/2015/11/o-mago-ou-carta-i.html
A
equilibrista atravessa de um ponto a outro segurando um bastão que lhe auxilia,
de um lado uma bola de chumbo e do outro uma pluma, e ela seguia firme e sem
sorrir, concentrada sobre o seu objetivo e como chegará lá sem cair.
Um
homem com cartola na plateia observa atento, com sua íris negras analisando
cada detalhe da apresentação, em sua mão uma bengala com um grande rubi, por
dentro da capa uma adaga ornamental com desenhos em russo, na outra mão uma
taça de vinho que não se sabe de onde tirou.
Bebericou levemente sem tirar os
olhos da equilibrista.
Ao seu
lado, seu assistente de palco.
- Ela
está indo bem não acha?
- Como
poderia?
***
Sentou-se
diante do espelho para tirar a maquiagem, que era diferente a cada apresentação
e dependia de seu humor. Não percebeu a entrada do homem até que o viu no
reflexo do espelho. Virou-se assustada e ficou com a boca entreaberta quando
viu que ele segurava o bastão com a bola de chumbo na ponta.
-
Um belo truque.
-
O que você quer?
-
Entender como você se equilibrava daquela forma. Claro, não haveria outra forma.
Ela
se levantou e com alguns passos tirou o bastão das mãos dele, lhe dando as
costas e sentando novamente em frente ao espelho, encostando o bastão na parede
ao lado.
-
Uma bola falsa.
-
Tão falsa quanto sua barba mal colada.
Ele
riu e levou a mão ao rosto, retirando a barba e a cartola que revelou um longo
cabelo negro.
-
Perspicaz você.
-
Não se sobrevive se não for esperta o suficiente.
-
Imagino que estar sentada de costas para um estranho não te causa medo.
-
Uma estranha. – Corrigiu a garota. – E não vejo motivos para medo.
Tirou
o restante da maquiagem.
-
Você é um homem bonito. – Disse a maga.
-
Preferem mulheres. As pessoas se espantam com habilidades físicas quando são
feitas por um homem.
-
Não me diga – Engrossou a voz como se fosse um homem, e disse em tom de chacota
– Mulheres não servem para muita coisa.
Pelo
espelho o equilibrista olhou para ela em tom sério.
-
Seja franco, ou franca. Sua máscara é esse rosto sem maquiagem. Você na verdade
é quem estava lá em cima. Por que não assume a mulher que é de fato?
-
Não tenho motivos, não há bíblia que me sustente, altar que me oriente e santo
que me faça diferente...
A
maga então apontou para cima.
Para
o Grande Mistério nada é impossível.
-
É este o seu nome para se apresentar?
-
É sim. – Ela sorriu.
-
É péssimo.
-
É funcional.
-
O que vem a seguir? Um pedido de casamento?
-
De certa forma. Por que não vem comigo?
-
Para que precisaria de mim?
-
Nenhum mago é bom o suficiente enquanto não tem uma bela mulher para
auxiliá-lo.
-
E eu tenho cara de ajudante agora?
-
Na verdade, tem cara de quem não soube tirar toda a maquiagem. Mas comigo não
irá precisar tirá-la.
-
Você tem cara de quem não sabe colar uma barba. Tem uma proposta melhor do que
me cerrar ao meio ou me deixar girando enquanto atira facas em mim?
-
O que propõe?
-
Parceria. Me ensine algumas coisas, te ensino outras. Fugimos.
-
Para onde?
-
Para o Grande Mistério. – Apontou para cima.
E
o acordo foi feito com o riso dos dois.
Mas...
