segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O conselho da Sacerdotisa



  
http://cap3la.blogspot.com.br/2016/10/a-sacerdotisa-ou-carta-ii-parte-1.html
http://cap3la.blogspot.com.br/2016/10/oracao-n-3-7-sacerdotisa-parte-2.html
http://cap3la.blogspot.com.br/2016/10/oracao-n-3-3-de-espadas-sacerdotisa_10.html

  



  
- Pois bem, 3ª a ser visitada, estamos melhor posicionados dessa vez não é?

- De alguma forma – Respondeu cabisbaixo.

Ela ou ele, virou-se e entrou pelo portal com a certeza de que seu visitante acompanharia e ainda que ele tivesse pensado em dar meia-volta, decidiu por seguir adiante.

- Sempre será assim, logo que chega já quer ir?

- É difícil olhar para dentro.

- Você acha?

- Em muitos momentos sim.

- São nesses momentos, quando nos voltamos para nós, é que algumas coisas passam a fazer sentido.

Caminharam pelo chão quadriculado enquanto um silencio ansioso tomava conta do ar ao redor deles. A Sacerdotisa percebia, mas de alguma forma não se importava, e não é que ela aparentava não se importar, ela de fato não era afetada.

Sentou-se na cadeira com estofado azul-marinho aveludado e fez gesto para que ele se sentasse em frente a ela. Sobre a mesa, um bule exalava doce perfume de chá de camomila, do qual se serviu o visitante satisfeito. Ela então pegou o Livro dos Espelhos em suas mãos e olhando para ele como se o analisasse com certa diversão, abriu e folheou.

- Escreveu mais algumas coisas antigas. Sem ordem cronológica. Fatos que te perturbam?

- Não sei dizer.

- Não, não sabe. – Afirmou abruptamente. – Não contou então sobre a queda do Louco. Usou artifícios, usou Alice. Mas não contou sobre o significado da Morte.

- Não sei se entendi sobre ela. Acredito que não.

- Você não entendeu muitas coisas.

- Muitas. – Bebeu do chá.

- Mas a mim parece que sim.

- Sim, por um triz.

Sorriu satisfeita e parou na última página escrita.

- A história pela metade. A tentativa de se consertar erros do passado. A ansiedade para não voltar a cometer erros. Olha-se para dentro e apenas para dentro e não confia na intuição, pois sobre isso ela é uma cega que tateia onde não há paredes. E se segue, no escuro, sem apoio. E segue.

- E segue.

Olhando para ele voltou algumas páginas.

- Um breve encontro com a carta do Diabo novamente, agora sob novo aspecto e também decidiu por não escrever.

- Não era hora, não estava preparado.

- Não, não estava. – Assentiu.

- O Louco, a Morte, o Diabo. Que tríade não é? E agora está aqui ao invés de pedir socorro à Temperança.

- Estou onde tenho que estar.

- Mesmo não querendo. – Ela sorriu como se chegasse onde queria.

- Respire fundo, olhe como se estivesse do lado de fora. Você está do lado de fora. Você não sabe as intenções deles, eles não sabem um do outro. O que fazem?

- Se protegem.

- Alguém cederá? Alguém perderá a carapaça? Alguém está enganando? Alguém está mentindo? Haverá dor? Um irá sofrer? Quem irá sofrer? É melhor atacar antes? Atacar é a melhor defesa? E agora o que fazer?

Fechou os olhos permitindo que o medo tomasse conta do seu coração.

- Medo? – Virou as páginas e lhe entregou o Livro.


- Por que insiste? – Perguntou-lhe olhando profundamente.

- Não sei...

- Você já não disse adeus?

- Eu...

- Por isso temos história, por isso sobrevivemos à elas. Por isso escrevemos. Para nos lembrar.– de onde estava virou novamente as páginas do Livro.


Olhou para ele, ainda arqueada com o dedo na página da Força.

- Desta vez, e apenas desta vez, lhe darei algo para pensar e se lembrar. – Tomou-lhe o livro das mãos e anotou algo em uma das páginas, devolvendo.


Vossa razão e vossa paixão são o leme e as velas de vossa alma navegante. Se vossas velas ou vosso leme se quebram, só podereis derivar ou permanecer imóveis no meio do mar. Pois a razão, reinando sozinha, restringe todo impulso; e a paixão, deixada a si, é um fogo que arde até sua própria destruição.

Que vossa alma eleve, portanto, vossa razão à altura de vossa paixão, para que ela possa cantar, E que dirija vossa paixão a par com vossa razão, para que ela possa viver numa ressurreição cotidiana e, como a fênix, renascer das próprias cinzas.
Khalil Gibran



- Leve o livro, continue em frente e não se esqueça o que há dentro, e aquilo que foi e não será mais, lembre-se de suas decisões pois não é mais vítima de infortúnio alheio e sim de si mesmo, e por hora isso deve acabar.