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- Pois bem, 3ª a ser visitada,
estamos melhor posicionados dessa vez não é?
- De alguma forma – Respondeu cabisbaixo.
Ela ou ele, virou-se e entrou
pelo portal com a certeza de que seu visitante acompanharia e ainda que ele tivesse
pensado em dar meia-volta, decidiu por seguir adiante.
- Sempre será assim, logo que
chega já quer ir?
- É difícil olhar para dentro.
- Você acha?
- Em muitos momentos sim.
- São nesses momentos, quando nos
voltamos para nós, é que algumas coisas passam a fazer sentido.
Caminharam pelo chão quadriculado
enquanto um silencio ansioso tomava conta do ar ao redor deles. A Sacerdotisa
percebia, mas de alguma forma não se importava, e não é que ela aparentava não
se importar, ela de fato não era
afetada.
Sentou-se na cadeira com estofado
azul-marinho aveludado e fez gesto para que ele se sentasse em frente a ela.
Sobre a mesa, um bule exalava doce perfume de chá de camomila, do qual se serviu
o visitante satisfeito. Ela então pegou o Livro
dos Espelhos em suas mãos e olhando para ele como se o analisasse com certa
diversão, abriu e folheou.
- Escreveu mais algumas coisas
antigas. Sem ordem cronológica. Fatos que te perturbam?
- Não sei dizer.
- Não, não sabe. – Afirmou abruptamente.
– Não contou então sobre a queda do Louco. Usou artifícios, usou Alice. Mas não
contou sobre o significado da Morte.
- Não sei se entendi sobre ela.
Acredito que não.
- Você não entendeu muitas
coisas.
- Muitas. – Bebeu do chá.
- Mas a mim parece que sim.
- Sim, por um triz.
Sorriu satisfeita e parou na
última página escrita.
- A história pela metade. A
tentativa de se consertar erros do passado. A ansiedade para não voltar a
cometer erros. Olha-se para dentro e apenas para dentro e não confia na
intuição, pois sobre isso ela é uma cega que tateia onde não há paredes. E se
segue, no escuro, sem apoio. E segue.
- E segue.
Olhando para ele voltou algumas
páginas.
- Um breve encontro com a carta
do Diabo novamente, agora sob novo aspecto e também decidiu por não escrever.
- Não era hora, não estava
preparado.
- Não, não estava. – Assentiu.
- O Louco, a Morte, o Diabo. Que
tríade não é? E agora está aqui ao invés de pedir socorro à Temperança.
- Estou onde tenho que estar.
- Mesmo não querendo. – Ela sorriu
como se chegasse onde queria.
- Respire fundo, olhe como se
estivesse do lado de fora. Você está do lado de fora. Você não sabe as
intenções deles, eles não sabem um do outro. O que fazem?
- Se protegem.
- Alguém cederá? Alguém perderá a carapaça? Alguém está enganando? Alguém está mentindo? Haverá dor? Um irá sofrer? Quem irá sofrer? É melhor atacar antes? Atacar é a melhor defesa? E agora o que fazer?
Fechou os olhos permitindo que o
medo tomasse conta do seu coração.
- Medo? – Virou as páginas e lhe
entregou o Livro.
- Por que insiste? – Perguntou-lhe
olhando profundamente.
- Não sei...
- Você já não disse adeus?
- Eu...
- Por isso temos história, por
isso sobrevivemos à elas. Por isso escrevemos. Para nos lembrar.– de onde
estava virou novamente as páginas do Livro.
Olhou para ele, ainda arqueada com o dedo na página da Força.
- Desta vez, e apenas desta vez,
lhe darei algo para pensar e se lembrar. – Tomou-lhe o livro das mãos e anotou
algo em uma das páginas, devolvendo.
Vossa razão e vossa paixão são o leme e as velas de vossa
alma navegante. Se vossas velas ou vosso leme se quebram, só podereis derivar
ou permanecer imóveis no meio do mar. Pois a razão, reinando sozinha, restringe
todo impulso; e a paixão, deixada a si, é um fogo que arde até sua própria
destruição.
Que vossa alma eleve, portanto, vossa razão à altura de vossa paixão, para que ela possa cantar, E que dirija vossa paixão a par com vossa razão, para que ela possa viver numa ressurreição cotidiana e, como a fênix, renascer das próprias cinzas.
Que vossa alma eleve, portanto, vossa razão à altura de vossa paixão, para que ela possa cantar, E que dirija vossa paixão a par com vossa razão, para que ela possa viver numa ressurreição cotidiana e, como a fênix, renascer das próprias cinzas.
Khalil Gibran
- Leve o livro, continue em
frente e não se esqueça o que há dentro, e aquilo que foi e não será mais,
lembre-se de suas decisões pois não é mais vítima de infortúnio alheio e sim de
si mesmo, e por hora isso deve acabar.

