- Não entendo senhora, faço de tudo, me esforço, mas as
coisas nunca acontecem e quando acontecem nunca são da forma como espero. Fico
tentando sempre e nada flui como deveria. Não sei se o problema sou eu ou os
outros ou o motivo que isso acontece. – parou por um instante olhando para o
chão, com a testa franzida – Preciso de uma luz.
- Não me chame de senhora.
- Sim, tudo bem, me perdoe Grande Avó.
- Você diz que seus planos não fluem?
- Nunca, as coisas não dão certo.
- Entendo. – pegou uma vara e no chão que tinha areia, em
frente à fogueira, desenhou um xis e um pouco distante deste, fez um círculo.
- Aqui – apontou o xis – é você, aqui – apontou o círculo –
é seu objetivo.
Parou por um instante e olhou de forma profunda para o jovem
à sua frente.
- Me mostre qual a melhor forma de se sair daqui - apontou
de novo para o xis – e chegar aqui – apontou para o círculo.
Com seus dedos, ele traçou uma linha reta, do xis ao círculo
e olhou para ela.
- É isso? – perguntou a velha.
- Sim, de mim ao objetivo.
- Quando você puxa a linha do xis, atravessa a borda do
círculo. É isso que você quer? Mudar seu objetivo final? – Com a vara, bagunçou
novamente a areia e refez o xis e o círculo.
- De novo.
E ele tentou de novo, puxou do círculo ao xis e ao ser
questionado se era isso que queria, que o objetivo fosse até ele, teve sua
tentativa novamente apagada. Tentou 18 vezes, e em nenhuma delas o
questionamento da anciã lhe parecia satisfatório.
- Não sei o que você quer de mim. – disse o jovem.
- Quero que você olhe todas as suas tentativas, o que restou
delas?
- Nada, você apagou todas...
- De novo – fez o xis e o círculo novamente.
Sem pensar, o jovem passou a mão na areia, apagando os dois
símbolos e olhou para ela, obviamente frustrado.
- Você precisa ver. – disse a velha, agora sorrindo.
- Ver o que?
- O que há de comum em todas suas tentativas?
- Não sei – e incomodado, passou a mão nas próprias roupas,
sujando-as com a areia avermelhada. Percebeu que havia se sujado e ficou mais
frustrado.
- Você nem ao menos é capaz de ver o que há ao redor do seu
caminho. – sorriu, parecia ter vontade de gargalhar.
- Areia?
- Você sujou suas mãos não foi mesmo? Sujou suas roupas e
nem conseguiu atingir o objetivo. – os olhos dela agora brilhavam. – E você não
atingiu o que queria por que me ouviu, por que perguntei.
- Você disse que eu estava errado.
- Não, eu perguntei se era o que você queria. Em nenhum
momento você afirmou que era. E ainda sujou as próprias mãos, as próprias
roupas.
Ele ficou em silêncio olhando para onde estava o xis e o
círculo.
- Nossas vontades as vezes são como a Lua, que reflete a
verdade do Sol, mas de forma que não percebemos, que não notamos. Ficamos
frustrados, por que percebemos o reflexo mas não o que há de fato em nós. E por
vezes nos sujamos, achando que estamos de fato, em uma tentativa.
Olhou para ela, pegou uma vara próxima, desenhou dois xis,
riscou uma linha entre eles e voltou-se para ela firmemente.
A Grande Avó sorriu.
Dime luna de plata
Que pretendes hacer

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