Imperador
Primeiro de seu Nome
O Grande Deus Sol
Conquistador de Reinos
Criador de Exércitos
Estrategista Supremo
Acordou às 5 da manhã. Tomou um banho rápido, café da manhã para ela e
para a criança que iria para a escola dali a 2 horas. Pegou a filha menor,
enrolou em um pano que passava pelo seu pescoço e mantinha a pequena segura,
sentada ou deitada, próxima de seu peito. Cesta de salgados feitos no dia
anterior, outra um pouco menor para os doces – colocava amor nos alimentos que
preparava, pois conforme sua mãe ensinou, às vezes uma pessoa só precisa de
algo feito com amor para começar o dia bem.
Foi para o ponto de ônibus, como todos os dias. Pegaria dois e chegaria
à estação de metrô, com sorte venderia algo ainda no ônibus. Já no trem a
situação seria um pouco diferente, não era permitido comercializar nada em seus
vagões, mas uns conhecidos sempre compravam algo e assim outras pessoas que
saíram apressadas de casa a iriam ver e pediriam também. Grande parte do que
fizera para vender se esvaziava nesse trajeto e o restante venderia no centro.
Todos os dias os mesmos caminhos.
Exceto naquele dia, em especial. Veio outro motorista, não o que fazia
a linha habitualmente. Pediu, como sempre, para que abrisse as portas
traseiras, já que teria dificuldade de passar com a criança pela catraca.
- Não posso abrir não senhora.
- Como assim não pode abrir?
- Não posso... – e começou a sair com o ônibus.
- ELA VAI PAGAR – Alguém já acostumado com sua presença no ônibus
naquele horário gritou.
- Ah sim... – e abriu a porta.
Subiu, constrangida. Embora se sentisse mal, tinha que vender seus
salgados e assim o fez, afinal, não havia nada de novo em um país racista.
Mas naquele dia havia sim.
Timidamente um homem se aproximou.
- Com licença... posso conversar com você?
- Sim claro. - disse com seu sorriso inabalável no rosto.
- Sou fotógrafo... trabalho com fotos de empoderamento e você... bem...
você é linda com a criança nos braços.
- Obrigada. – Outro sorriso, novamente gentil.
- Poderia tirar uma foto sua?
- Sim, sem dúvidas. – e se preparou para a foto.
Sem saber, que ali, em um assento de ônibus, com duas cestas e uma
criança no colo e como tantas outras mães negras que saem pela manhã para
conquistar o sustento para seus filhos e ganhar a vida honestamente, invocava
figura indomável de um Imperador.
O assento? Seu trono.
Suas crianças? Seu reino.
Suas cestas? Seu cetro
Seu cabelo crespo? Sua coroa.
E nunca, motorista algum, iria fazer com que ela se sentisse menor.
Pois não era.
Sua alma é imensa, maior que este país.
*Conto baseado em fatos reais.


