Ergueu-se do chão, embainhou a espada. Logo mais uma luta se aproximaria e estava cansado. Passou os dedos no bigode
espesso, ergueu os olhos para a imponente estátua diante de si. Diziam que
protege a todos que assim o merecem e diante desses anos de guerras, pedir por
mais uma proteção poderia de alguma forma pesar demais. Com olhos de uma
criança inocente e meio sorriso no rosto, disse:
- Uma vez mais, Grande Dama. Abençoe este guerreiro para o que tenha que acontecer.
Vestiu-se com armadura, elmo e pegou o escudo. Montou seu cavalo e foi para o campo de batalha.
- Uma vez mais, Grande Dama. Abençoe este guerreiro para o que tenha que acontecer.
Vestiu-se com armadura, elmo e pegou o escudo. Montou seu cavalo e foi para o campo de batalha.
* * *
Entregou seus sentimentos sem medo, talvez uma atitude um pouco provocada pelo
Louco, com a força de um Carro. Mas o fez. E agora pedia clemência e suspirava
por uma luz no fim do túnel que demonstrasse a ela que não tinha feito errado.
Acendeu um cigarro, depois outro e outro. No quarto, o celular vibrou. Mensagem
da operadora. Assim, iria para a quinta vez que usaria o isqueiro. Estava
particularmente bonita naquele dia, um vestido que ia um pouco acima do joelho,
vermelho é claro, meias finas pretas, bota de cano curto e um lenço que por
vezes funcionava como xale. E ainda não sabia o que diria, se diria e por onde
começaria. Ele entrou apressado, com certa urgência no andar, talvez por estar
atrasado. Sentou-se a mesa e a olhou no fundo de seus olhos castanhos.
* * *
Lutou com todas as forças pelo cargo, fez tudo o que podia e algumas coisas que
não podia. Deixou de lado sua vida social (algo que pensava não ser mais
necessário desde o término da faculdade), terminou relacionamentos, não visitou
os parentes por algum tempo. Dedicação total. Mas ainda sentia que não teria
como alcançar o que desejava. Motivos? Nenhum aparente, talvez fosse a política
e o jogo dos poderes dentro da empresa. Pensou em vários momentos em desistir.
Talvez assim pudesse recuperar o tempo perdido dentro do escritório – muito
embora, não se sentisse confortável em dizer que o tempo foi, de fato, perdido.
Fez algumas amizades, ampliou a quantidade e a qualidade de seus contatos e
isso por si só já deveria ter valido a pena. Talvez.
* * *
- E daí?
- Bem... o
guerreiro morreu. Era velho demais para mais uma batalha e assim, por mais que
tentasse não poderia sobreviver.
- O que há de justo nisso?
- Ergueram uma
estátua dele na praça principal da cidade e todos contavam suas façanhas e as
crianças fingiam ser o homem enquanto brincavam. A Justiça pesa todas as ações,
pesa tudo o que é favorável e o que não é, e oferece aquilo que lhe é por
direito.
- Sei... e a mulher?
- O namoro acabou. Mas não que fosse sua própria
culpa, mas como permanecer em algo que foi negligenciado pelo seu parceiro? Em
um primeiro momento, a situação se configura ruim para ela, mas quem estava
colhendo os frutos mal plantados era ele. A Justiça pesa todas as ações, pesa
tudo o que é favorável e o que não é, e oferece aquilo que lhe é por direito.
-
Hum... é... meio estranho.
- O homem, ele não conseguiu o cargo por mais que
tivesse se esforçado. Mas foi chamado por outro setor, onde cresceu muito mais
se valendo dos conhecimentos adquiridos anteriormente. A Justiça pesa todas as
ações, pesa tudo o que é favorável e o que não é, e oferece aquilo que lhe é
por direito.
- Não entendi, eles parecem que se deram mal, mesmo tentando fazer o certo.
- Não entendi, eles parecem que se deram mal, mesmo tentando fazer o certo.
- Você entenderá... - Ofereceu mais uma xícara de chá, enquanto olhava
para o jogo aberto.
E solene, a Justiça
encontrava-se no centro da mesa.

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