Ouviu ao longe a trombeta que avisava: Fim.
Como pode um sentimento acabar por culpa de erros cometidos
de formas tão grotescas? Como pode uma relação encontrar em seu fim uma forma
de superar e se erguer? Os olhos ficam marejados, o estômago em um turbilhão de
sensações (nenhuma boa), a boca em contradição com os olhos, mantém-se seca e
as mãos ficam geladas.
A espada atravessa o abdômen do samurai que não grita, não
geme. Apenas aceita que é aquele o momento de demonstrar sua força, sua coragem
e sua honra. A dor lenta espalha-se por todo o seu corpo e o consome por
inteiro. Mas ainda que as vísceras estejam à vista da plateia, ele não deve
parar – assim recobrará aquilo que foi perdido. De um lado a outro, um corte
profundo. Não tão diferente do que às vezes devemos fazer.
A Morte passa levemente sua mão pelo corpo estendido,
enquanto o público começa a se dispersar. À sua vista a adaga ensanguentada
enquanto que não tão longe, a família mantém-se impávida.
- Estou pronto – Disse o samurai.
- Um ato bonito de qualquer forma. Haverá um tempo que isso
não mais será possível, mas as pessoas escolherão outras formas de fazê-lo. –
Havia um ar de desinteresse em sua fala, quase desdém.
O samurai assentiu, sem saber do que a mulher falava.
- Não acha estranho como há tanta dor nos términos? Há um
quê de sacrifício. Não entendem uma lei universal simples.
O homem manteve-se ereto enquanto ouvia, com uma expressão
sem sentimentos.
- O fim deveria ser um jubilo. Sabe o que significa? O fim
significa que quando a folha seca cai no chão ela servirá para o propósito de
nascimento e crescimento de outra árvore. O ciclo sem fim a que todos que estão
vivos permanecem presos.
- Diga-me, jovem alma, do que mais gostava quando era
encarnado?
- Gostava do sol da manhã, quando me sentava à varanda de
minha casa e sentia uma brisa calma e fria no rosto.



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